segunda-feira, 12 de setembro de 2011

PESQUISANDO A CURA




Imerso em pesquisa, o biólogo Alysson Muotri em seu laboratório na

Universidade da Califórina

onde estuda drogas que podem reverter o autismo.


Saber mais sobre como
os neurônios se comportam ao longo de nossa vida sempre fascinou o
biólogo Alysson Muotri. Depois do doutorado em genética na USP e uma
passagem por Harvard, Muotri passou 6 anos no Instituto Salk, na
Califórnia, que já abrigou prêmios Nobel como o inglês Francis Crick, um
dos descobridores da estrutura do DNA. Nesse período, se aprofundou em
como neurônios surgem no cérebro adulto. Os estudos na área o levariam a
uma explicação inédita e uma possível cura para o autismo — que atinge
uma a cada 110 crianças norte-americanas. “Conseguimos abalar um dos
grandes dogmas da neurociência, aquele de que doenças mentais não têm
cura.”




A grande revelação científica de
Muotri, já professor do Departamento de Pediatria e Medicina Celular e
Molecular da Universidade da Califórnia, foi descobrir que, em cérebros
autistas, novos neurônios se formam com mais facilidade devido a uma
mutação genética. Em pessoas comuns, o surgimento desses neurônios na
fase adulta é possível porque nosso cérebro possui células-tronco
(capazes de se diferenciar em diversas estruturas de nosso corpo)
adormecidas.




Quando estimuladas , por exemplo
por novas experiências e aprendizados, elas se transformam em
neurônios. “Isso acontece graças à ativação de determinadas nsequências
de genes, chamadas de elementos transponíveis.”

Na
maioria das pessoas, exercitar a mente, seja lendo um livro, jogando
xadrez ou aprendendo a tocar um instrumento, desperta os tais elementos
transponíveis.




Porém, os autistas não
precisariam de tanto exercício. Segundo a pesquisa de Muotri, eles já
possuem esse sistema naturalmente mais ativo do que gente saudável. Em
tese, isso seria bom, já que um cérebro dinâmico pode gerar habilidades
extraordinárias, como uma supermemória ou destreza em cálculos
matemáticos.




Mas isso também multiplica a
chance de mutações que tornam os neurônios autistas defeituosos. Por
exemplo, são menores e têm menos capacidade de completar sinapses, as
regiões de comunicação entre as células cerebrais.




O pesquisador e sua equipe
retiraram células da pele de pacientes autistas e saudáveis, depois
fizeram com que elas voltassem a ser células-tronco e as submeteram a um
ambiente similar ao do cérebro, usando vitaminais e sais minerais.
“Assim, conseguimos que essas células se comportassem como neurônios”,
diz Muotri. Acompanhando sua evolução, o grupo observou o surgimento dos
defeitos nos neurônios autistas. Com o tempo, eles se atrofiavam. O
passo seguinte foi testar várias substâncias para reverter o problema.
Duas delas — o hormônio Insulin Grow Factor 1 (IGF1) e o antibiótico
Gentamicina — provaram ser eficazes. “Em tese, curamos o autismo, mas
ainda há vários testes para que essas drogas possam chegar ao mercado.”




Em caráter experimental, uma
equipe de médicos do Children´s Hospital, em Boston, nos EUA, já usa as
substâncias em um grupo de 10 crianças autistas. No entanto, os efeitos
colaterais ainda não são completamente conhecidos. “Pode haver perda de
memórias e até de conhecimentos adquiridos por conta da reconfiguração
cerebral provocada pelos medicamentos”, diz Muotri. Se essas barreiras
forem ultrapassadas, os autistas não devem ser os únicos beneficiados.
“No futuro, talvez possamos ampliar a inteligência e a criatividade ao
acelerar o desenvolvimento de neurônios em um cérebro adulto.”